Acordo de Paris pode beneficiar o sector das pescas

Limitar futuras alterações climáticas, cumprindo o Acordo de Paris, será benéfico para a pesca comercial, uma vez que permite minimizar eventuais alterações na distribuição de espécies de peixes demersais que são alvo de pesca comercial no Atlântico Norte. Estas são as principais conclusões do primeiro estudo que relaciona as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris e a pesca comercial no Atlântico Norte.
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Albert kok, CC BY-SA 3.0
 

Neste estudo, investigadores do Centro de Ciências do Mar do Algarve (CCMAR-Algarve) e da Universidade do Algarve (UAlg) desenvolveram modelos robustos para comparar as distribuições geográficas de 10 espécies de peixes que vivem perto dos fundos marinhos (peixes demersais) de elevado valor comercial no Atlântico Norte, como o robalo, o linguado, a pescada e o bacalhau. Estes modelos permitiram comparar as distribuições atuais dessas espécies com dois cenários futuros distintos para o final do século XXI: um cenário em que são cumpridas as metas para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa definidas pelo Acordo de Paris, e outro cenário sem mitigação das emissões.

Os resultados do estudo sugerem uma tendência, em ambos os cenários, para que as distribuições destas espécies de peixes se desloquem para Norte. No entanto, no cenário em que o Acordo de Paris não é cumprido, estas alterações na distribuição das espécies são muito maiores do que no cenário em que o acordo é cumprido. Manuel Ramos Martins, autor do estudo e investigador do CCMAR-Algarve, explica que “estas alterações de distribuição vão trazer grandes desafios ao sector das pescas. Se não cumprirmos o Acordo de Paris, as espécies comerciais de maior valor vão-se deslocar ainda mais para norte, para zonas muito distantes dos atuais bancos e portos de pesca, o que vai trazer custos adicionais para o sector, quer a nível de transportes quer a nível de tempo despendido na pesca”. Para além disso, o estudo prevê que também ocorram alterações a nível da composição das espécies, ou seja, as várias espécies que hoje encontramos em determinadas áreas não serão as mesmas no futuro. “Estas alterações vão obrigar o sector das pescas a adaptar os seus métodos de captura a uma nova realidade, o que também vai implicar custos consideráveis”, salienta o autor.

David Abecasis, coordenador do estudo e investigador do CCMAR-Algarve e da UAlg, salienta que “este estudo é uma contribuição enorme para a gestão das pescas no contexto das alterações climáticas, em que informação científica como a que apresentamos com estes modelos raramente tem sido tida em conta”. Esta situação resulta, em grande parte, na dificuldade em produzir modelos fiáveis e compreensivos. Jorge Assis, coautor do estudo e também ele investigador do CCMAR-Algarve e da UAlg, explica que “os modelos que desenvolvemos destacam-se em relação a outros estudos porque incluem variáveis que normalmente não são incluídas, mas que têm elevada importância biológica, como a produtividade primária e o oxigénio dissolvido. Ao incluirmos estas variáveis nos nossos modelos, garantimos que estes são mais robustos e que se aproximam melhor dos cenários futuros.”

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